Nos últimos dias, a bandeira do fim da escala 6×1 conquistou os corações e mentes de trabalhadores e trabalhadoras de todo o Brasil. A pauta ganhou tanta força que manifestações em defesa da abolição dessa jornada de trabalho abusiva foram convocadas em todas as principais cidades brasileiras e há expectativa de que milhares de pessoas compareçam aos atos.
Apesar da dimensão impressionante que essa mobilização tomou no país nesta semana, a reivindicação de uma jornada de trabalho mais justa não começou agora. Há quase duzentos anos, o movimento operário trava essa luta: desde o século XIX, a bandeira das oito horas de trabalho diárias (que, vale dizer, ainda não foi alcançada no Brasil) movimentou milhões de homens e mulheres nos quatro cantos do mundo.
Isso porque, seja nas plantations coloniais ou nas fábricas, os exploradores já impuseram 14 e até mesmo 16 horas diárias de trabalho. Apesar disso, historicamente, as greves e ações coletivas dos trabalhadores conquistaram leis e outras formas de proibir ou barrar essas jornadas ainda mais abusivas. No Brasil, a luta pelo fim da escala 6×1 é uma continuidade dessa luta por uma vida mais digna para quem trabalha, com direito a descanso, lazer e cultura.
Karl Marx, um verdadeiro professor do movimento operário, tratou do tema em sua obra. Na sua principal análise crítica do sistema capitalista, o livro chamado O Capital (1867), ele identificou a jornada de trabalho como um dos principais pontos de embate entre a burguesia e os operários.
Marx aponta: "O tempo em que o trabalhador trabalha é o tempo durante o qual o capitalista consome a força de trabalho que comprou. Se o trabalhador consome em seu proveito o tempo que tem disponível, furta o capitalista. O capitalista apoia-se na lei de troca de mercadorias. Como qualquer outro comprador procura extrair o maior proveito possível do valor de uso de sua mercadoria."
Ele continua: "Entre direitos iguais e opostos decide a força. Assim, a regulamentação da jornada de trabalho se apresenta, na história da produção capitalista, como luta pela limitação da jornada de trabalho, um embate que se trava entre a classe capitalista e a classe trabalhadora". Por isso, fica claro que só a luta organizada dos operários pode impor limites à ganância da classe capitalista, regulamentando a jornada de trabalho em marcos mais favoráveis para quem trabalha.
Fonte: JORNAL A VERDADE