ANDRE FORINE

OAB forma parecer, contra PL do Aborto

'Grosseiro e desconexo da realidade"

Por Fabíola Perez e Ana Paula Bimbati em 17/06/2024 às 13:27:17

HĂĄ pessoas que defendem e falam que as mulheres que não quisessem criar um filho decorrente de um estupro poderiam colocĂĄ-los para a adoção.

"É fĂĄcil falar, né? Pra entregar o filho pra adoção, como eu escutei ontem. 'Entrega o filho pra adoção'. Agora, eu queria saber se fosse filha de algum de vocĂȘs aĂ­, que estão votando nesse projeto. Se fosse alguém da sua famĂ­lia.

"Porque, se ela, a mulher estuprada, vier a interromper essa gravidez depois de 22 semanas, que é o que estĂĄ nessa Lei, seja por demora na Justiça ou por qualquer outro empecilho que uma vĂ­tima de abuso enfrenta hoje em dia para ter acesso ao aborto. Inverte os papéis! A pena dela vai ser maior do que a dele. Ou seja, não faz o menor sentido."

"E, de novo, não é uma questão ideológica, é uma questão de lógica mesmo. Criança não é mãe. E é muito cruel obrigar uma vĂ­tima de estupro a levar a cabo uma gravidez. Queria me colocar aqui claramente ao lado dessas mulheres toda, que jĂĄ foram vĂ­timas de estupro e que não devem ser vĂ­timas de uma injustiça para piorar a situação".

Mas simplesmente não é lógico, e é principalmente cruel com as mulheres do nosso paĂ­s. Queria só registrar isso aqui que eu acho importante.

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OAB considerou PL do aborto inconstitucional. A entidade mencionou o avanço histórico de manifestações populares e femininas na "perspectiva de gĂȘnero na aplicação dos princĂ­pios constitucionais" e disse ainda que isso foi "suplantado por uma linguagem punitiva, depreciativa, despida de qualquer empatia e humanidade, cruel e, indubitavelmente, inconstitucional".

Uma comissão de mulheres da OAB criada para analisar o projeto de lei 1904/2024, que equipara a pena de aborto após 22 semanas de gestação à de homicĂ­dio, definiu o texto da proposta como "grosseiro" e "desconexo da realidade".

O documento serĂĄ encaminhado ao Congresso, segundo a entidade. Cinco das sete mulheres que compõem a comissão assinam o texto.

Texto afirma que a proposta da Câmara denota o distanciamento dos propositores "das fissuras sociais do Brasil". "Além de simplesmente ignorar aspectos psicológicos; particularidades orgânicas, inclusive, acerca da fisiologia corporal da menor vĂ­tima de estupro; da saĂșde clĂ­nica da mulher que corre risco de vida em prosseguir com a gestação, e da saĂșde mental das mulheres que carregam no ventre um anencéfalo", diz o parecer.

A comissão avaliou o tema como "um dos mais sensĂ­veis à sociedade". "Suscita a pluralidade de opiniões, pensamentos e posições, muitas delas lastreadas em convicções morais, éticas, religiosas e/ou polĂ­ticas", diz o parecer. "As discussões alcançadas pelas nuances que circundam o tema perpassam pelo campo da saĂșde pĂșblica, do direito e até mesmo da cultura."

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As pesquisas citadas apontam que mulheres pretas se hospitalizam mais por aborto do que as de cor branca, "sendo o pĂșblico com maior frequĂȘncia de gestantes adolescentes". A entidade afirma que a criminalização do aborto após as 22 semanas de gestação "incidirĂĄ de forma absolutamente atroz sobre a população vulnerabilizada, pretas, pobres e de baixa escolaridade."

Na semana passada, a Câmara dos Deputados aprovou a urgĂȘncia do projeto. Com isso, a proposta não vai precisar passar pelas comissões temĂĄticas da Casa e vai direto ao plenĂĄrio. A ação levou centenas de pessoas às ruas em diferentes cidades do paĂ­s contra o projeto.

Uma das crĂ­ticas ao texto é que a pena para meninas e mulheres que realizarem aborto após 22 semanas seria de seis a 20 anos de prisão. Para estupradores, o tempo de detenção mĂĄximo é de dez anos.

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O que mais diz o parecer

A criminalização pretendida é grave porque afeta especialmente as meninas e mulheres mais vulnerĂĄveis, principalmente social e economicamente. Meninas vĂ­timas de violĂȘncia sexual são as que demoram mais a identificar e conseguir pedir socorro em situações de violĂȘncia, a perceber uma gravidez decorrente de violĂȘncia e a chegar aos serviços de saĂșde.

Caso avance a proposta legislativa culminando na criação de nova lei, que o tema seja submetido ao escrutĂ­nio do Supremo Tribunal Federal por meio de ação de controle de constitucionalidade, a fim de reparar possĂ­veis danos aos direitos de meninas e mulheres.

O documento também prevĂȘ que " merece o respectivo parecer ser levado ao conhecimento da presidĂȘncia da Câmara dos Deputados e do Senado Federal". O parecer pede ao arquivamento do PL do aborto.

"Tendo em vista, ainda, que a proposta padece de inconvencionalidade, inconstitucionalidade e ilegalidade pelas violações exaustivamente apontadas acima, manifestamo-nos pelo total rechaço e repĂșdio ao referido projeto de lei, pugnando pelo seu arquivamento, bem como a qualquer proposta legislativa que limite a norma penal permissiva vigente, haja vista que a criminalização pretendida configura gravĂ­ssima violação aos direitos humanos de mulheres e meninas duramente conquistados ao longo da história", diz o documento.



A lei brasileira permite o aborto em trĂȘs casos: gestação após estupro, risco de morte para a mãe e fetos anencefĂĄlicos. Não hĂĄ restrição de tempo para o procedimento em nenhum dos casos.

Fonte: UOL

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